2025 em pingos

pra evitar rombos na memória

seg, 2025-dez-01

pra evitar rombos na memória (ocorrência comum), pontuo aqui alguns relances de um ano inacabado:

de raiva, eu bati a cabeça numa quina até sangrar;
eu acordei, troquei os lençóis e fiz um curativo;
eu conquistei o que queria rápido demais, só pra perder do nada e sem aviso;
eu criei expectativa;
eu vi o que não devia ter visto;
eu falhei com tudo e todos;
eu senti euforia vez ou outra, e chorei uma centena de vezes;
eu aprendi o que é a rejeição, e ouvi o silêncio da covardia;
eu dei meu melhor pra não achar que sou o único nesse mundo;
eu ajudei quem me ajudou;
eu rezei por um confronto; eu quis bater sabendo que ia apanhar;
eu sorei chorrindo e chorri sorando;
eu tentei não nutrir raiva;
eu fiz cadeira, fiz mesa, fiz gaveta;
eu aprendi a bolar cigarro (veio a ser útil);
eu quis que me confrontassem, mas ninguém topou; sobrou pra mim;
eu vi o que é ser ignorado; eu senti a irrelevância;
eu percebi que o esforço ativo de ignorar é uma tentativa de demonstração de indiferença que também revela o seu oposto;
eu atuei num curta quando mais tive medo;
eu me cerquei de pessoas legais;
eu tive a sorte de ser bem cuidado por quem me ama, até quando não percebia;
eu entendi que é impossível viver sem causar rusgas ao redor;
eu nem sequer ouvi o zumzumzum ao meu redor;
eu escrevi mais de cem cartas de amor e guardei quase todas pra mim;
eu vi o sol nascer não sei quantas vezes;
eu fui o último sair e a apaguei a luz;
eu tive boca e fui a roma; bebi a água infinita das suas fontes;
eu vi as ruas de zagreb e a origem da gravata;
eu viajei 2000 quilômetros pra entregar uma carta de amor;
eu tornei de volta e acendi a luz novamente;
eu conheci uma estudante de perfumes;
eu dividi um quarto de hotel com um russo divorciado que acabara de conhecer;
eu farmei muita aura;
eu não fui assaltado;
eu tomei banho frio no inverno por vergonha de chamar alguém pra consertar o aquecedor;
eu agarrei várias oportunidades de fazer a coisa errada;
eu odiei tudo aquilo que não presta e gostei de tudo que presta;
eu nem sempre soube discernir o que presta do que não presta;
eu fui amado sem saber por quê;
eu conheci a menina que nunca mais ia ler um livro (ela leu);
eu vi que a vista não importa tanto;
eu chorei só porque a esse ponto já virou hábito;
eu fumei pela mesma razão;
eu bebi pela mesma razão;
eu distendi um nervo da perna e senti estar envelhecendo;
eu visitei a armênia e falei russo com os velhinhos;
eu escrevi uma carta pra cada pessoa, just in case;
eu fiz do meu pulmão um cinzeiro;
eu fingi bem, apesar de tudo;
eu fingi até conseguir;
eu fiz tudo do meu jeito, pra bem e/ou pra mal (eu fui e sou cabeça-dura);
eu absorvi níveis cancerígenos de brainrot;
eu colei a sola do sapato com super bonder;
eu fracassei em arrumar um emprego;
eu bebi tanta cerveja que o paquistanês dono da vendinha já me conhece de nome;
eu viajei de navio por dois dias, carregado de provisões e enlatados;
eu fui generoso e também mendiguei pra caramba;
eu também recebi sem pedir nem mendigar;
eu aprendi a tocar piano;
eu dei e recebi ghosting;
eu fui corny pra cacete;
eu enganei os outros;
eu enganei a mim;
eu fui enganado;
eu fiz escolhas e paguei pra ver;
eu tentei discernir o que realmente vale a pena;
eu recebi de volta muito do que perdi;
eu fui honesto pra caramba também, sabe